data-filename="retriever" style="width: 100%;">Numa dessas últimas madrugadas, enquanto aguardava mais uma série de provas e jogos das Olimpíadas de Tóquio, meus pensamentos errantes - sei lá por quais motivos inconscientes - me levaram para o Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo.
Corria o ano de 2015. E fiquei 17 dias internado. Fiz as contas: 17 dias x 24 horas = 608 horas. Medidas de sinais vitais a cada quatro horas. Taxas. Soros. Antibióticos potentes. Coleta de material para exames. Várias refeições e lanches. Óleo da canola na perna com erisipela. Curativo no cateter da subclávia. Insônia. Programas de rádio. TV. Piedosas visitas do padre. Consoladoras e simpáticas conversas com os paramédicos. Tempo que não passa para o (im)paciente.
Pensamentos fervendo a mil. Visitas inesperadas de pessoas surpreendentes. Visitas prometidas de pessoas queridas e que não se concretizaram. Visitas de pessoas desconhecidas e que emocionaram um velho coração. Dramas humanos pungentes de doentes de quartos vizinhos. A solidariedade pela dor. Passeios de mãos dadas pelos corredores com jovens fisioterapeutas e seus exercícios aeróbicos nas janelas.
Macas que cruzam com cadáveres cobertos com lençóis. Cadeiras de rodas com doentes baixando e outros dando alta. Pessoas abraçadas chorando um óbito. Outras sorrindo comemorando o nascimento de um neto. Eis a rotina de um grande hospital. Não é um local só de tristezas. E de morte. É um local de coisas alegres. Renascimentos. De brindes à vida.
Nunca fiquei tão convicto na minha vida de que a coisa mais importante é a saúde. Desde aquela internação, venho movendo céus e terra para investir na melhor qualidade de minha saúde (que já era muito boa). Mas que - por idiotice - não vinha lhe dando o devido valor.
Meti na cabeça que quero ver a formatura dos meus seis netos antes de morrer. Dois já se formaram. Mais dois ainda estão cursando a universidade. Um está começando o Ensino Médio. E o outro está na escolinha. Talvez, seja difícil ver a formatura da sexta netinha que está com quatro anos. Mas vou pelear. Pelo menos serve de motivação para prolongar a longevidade.
Para tanto, conto com alimentação orgânica preparada pela Vera e vinda de fornecedor especializado, com orientação da nutricionista, o que já me eliminou mais de 30 quilos. Duas sessões semanais a domicílio com fisioterapeuta para evitar perda de musculatura causada por 14 meses de isolamento social e vida sedentária. Remédios prescritos pela Dra. Jane e tomados rigorosamente. Tomo outras providências secundárias também! Jamais ir a reuniões de condomínio. Jamais abrir vídeos ou propagandas ou fakenews político-partidárias no facebook. Não responder a qualquer provocação. Faço cara de demência quando pretendem me "cutucar".
Para complementar este tratamento de obter qualidade de vida saudável: muita música, boa leitura, oração, reflexão. Não entro em controvérsias. Não polemizo. Não gasto energia em temas como política, religião, futebol. Mas longe de mim criticar quem o faça, por favor! Estou apenas justificando a posição do quase octogenário professor universitário aposentado que quer curtir seu ostracismo na santa paz cercado por seus filhos, netos e sua mulher.
Nessa etapa da vida, quando acordo ao amanhecer e sento na cama, sempre digo em voz alta: "Obrigado, Senhor, por mais 24 horas".
A alegria que me invade por estar vivo a cada manhã não tem preço.